Na noite chuvosa do Domingo de Páscoa, o público não se intimidou e fincou pé em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, esperando o espetáculo “Vida e Paixão de Cristo”, que estava marcada para começar às 22h. A espera foi recompensada por uma bela apresentação que reuniu mais de 60 artistas da cidade.
O atraso aconteceu porque chovia muito no horário marcado e os equipamentos de som e luz tiveram que ser desmontados. O público não se intimidou e continuou a chegar e a tomar conta do espaço. A chuva cessou e com mais ou menos uma hora de atraso, o espetáculo foi iniciado, para alegria dos que lá permaneceram e lotavam as arquibancadas. A Cia. da Lua, dirigida por Zequinha Miguel, conforme o esperado, fez um espetáculo criativo, patrocinado pela prefeitura, através da Fundação Cultural de Angra (Cultuar).
- Resolvemos investir nos nossos artistas, que sabemos que não deixam nada a dever para os globais e são ainda melhores. Prova disso é nos presentearam com essa bela apresentação de Vida e Paixão de Cristo, feita com carinho, estudo e dedicação . O resultado não poderia ser melhor- afirmou o presidente da Cultuar, Paulo Mattos, que acompanhou, na arquibancada, toda a encenação.
A companhia teatral ocupou a frente da igreja Matriz esbanjando competência, muita música, dança e um espetáculo de “Vida e Paixão de Cristo”bem diferente do que usualmente estamos habituados a assistir.
Em diversas cenas foram frequentes a presença de intervenções onde as manifestações culturais tradicionais da cidade ganharam destaque , como os cantos das Pastorinhas ( do folclore natalino da cidade), executado brilhantemente pelas irmãs Larissa e Clarissa; a burrinha e a vaquinha malhada da Festa do Divino; a matraca da Procissão do Senhor Morto: o canto da Verônica, feito por Leni Peixoto, representando a lamentação da mulher que enxuga o rosto de Nosso Senhor enquanto ele caminha com a cruz; além de músicas do Grupo Teatral Revolucena, como Indeiaiá e Dar por dar, que serviram de fundo para cenas importantes e marcantes no espetáculo.
Os destaques, além dos citados acima, foram muitos, a começar por Bruno Marques no papel de Jesus Cristo, os anjinhos, representados por várias crianças da comunidade angrense, Gabriel ( Jesus menino), Paula Rosa (Maria), Faldoride, antigo Revoluceno, que há tempos não atuava; Marlene (Maria Madalena), Marina Gonper (tentadora de Jesus), o maestro Saraiva (Erodes pai), Rico, do Ateneu Angrense (apóstolo Thiago), Luiz Augusto da banda Delta Blues ( Zacarias), Mauro Nask (João Batista), Hamilton (Caifás) e vários outros.
Uma cena não esperada, mas que foi uma das melhores, na opinião do espectador, o motorista Wenderson Azevedo da Silva, segundo ele “pela “pureza e beleza do ato” foi quando um menino bem pequeno, logo no início da apresentação, entrou repentinamente no espetáculo, subindo as escadas da igreja onde estavam os anjinhos e tentava pegar a fumaça que inundava a cena. O pai rapidamente foi em seu socorro retirando-o de cena.
Cláudia Amaro, de São Paulo, que estava passeando na cidade, só se retirou quando o espetáculo terminou, junto com as filhas Isabel e Isadora. “ Gostamos muito da história, que é bem mais densa da que estamos acostumadas a presenciar. Vamos embora com uma sensação boa da cidade. Não imaginávamos que encontraríamos um espetáculo na noite de domingo de Páscoa em plena praça, gratuito, e com um grande público, que não se assustou com a chuva. Foi muito bom mesmo- afirmou ela.