Patrimônio imaterial: Saberes e práticas culturais

Mesa-redonda com lideranças indígena, quilombola e caicara encerra discussões da Semana de Museus

Segunda-Feira, 23/05/2011 | .

A arquiteta Ana Paula Nascimento, da Fundação Cultural de Angra; André Bazzanella, do escritório técnico Costa Verde/Iphan; Lucas Benite Xunu-Miri, liderança  da Associação  Cultural da aldeia guarani do Bracuí;  João Ramos, do Quilombo Santa Rita do Bracuí; Laura dos Santos, do Quilombo do Campinho, de Paraty; e Luís Perequê, músico e poeta caiçara,  foram os convidados especiais da Cultuar, na mesa-redonda sobre patrimônio imaterial: Saberes e práticas culturais, que encerrou as atividades da Semana Nacional dos Museus em Angra.
 O evento foi realizado no Museu de Arte Sacra de Angra, na manhã de domingo, 22, com poucos  participantes mas uma grande qualidade  na discussão.  Na  roda que se formou para debater o assunto também estavam  Maria Helena, do Ateneu Angrense de Letras e Artes; Zequinha Miguel e Mauro Nask, da Cia.da Lua; o poeta Dalmo Saraiva; Décio Bernardo, do movimento negro Ylá Dudu; o contador de histórias Glauter Barros, dentre outros, que participaram ativamente das discussões.
  A representante da Cultuar Ana Paula falou sobre a política cultural  de valorização do patrimônio cultural de Angra, que está sendo implantada pela Cultuar, e abriu espaço para os convidados e plateia discorrer sobre om tema.
 André Bazzanella,   do Iphan, falou sobre as leis  que vêm mudando e dando atribuições ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Iphan) e  sobre as intervenções  do instituto na região. Explicou  que a ação mais  recente e importante em Angra foi a aquisição de material de construção da casa  de reza guarani, que vinha sendo uma das reivindicações antigas dos indígenas do Bracuí.
 João Ramos,   do Quilombo de Santa Rita do Bracuí, contou  a história da luta pela titulação das terras quilombolas do Bracuí, em andamento; falou  sobre os saberes diversos da comunidade quilombola e  sobre uma das  necessidades mais prementes da comunidade, que é conseguir  verbas para a conclusão do Centro Cultural Quilombola, que já está quase pronto e que será uma das principais conquistas da comunidade.
 A representante do Quilombo do Campinho, de Paraty, a coordenadora pedagógica Laura,  falou sobre suas  experiências como quilombola e lutas empreendidas para o fortalecimento do quilombo de Paraty, que é o único no Estado do Rio que tem a titulação da terra. Falou sobre a importância da educação diferenciada para as comunidades tradicionais da região e  mostrou a importância e a  necessidade de os movimentos sociais  se uniram para conseguir avançar em suas conquistas.
 A fala do músico e poeta  de Paraty Luís Perequê demonstrou a preocupação pela forma cruel como a indústria turística vem se firmando na região, em detrimento da cultura, e conclamou os movimentos e agentes culturais a se mobilizarem para tentar mudar a situação, porque,  segundo ele, o primeiro passo que o Estado brasileiro deve tomar na região “é tentar reparar os danos cometidos ao patrimônio cultural”.
 O último a falar sobre as experiências e os saberes  de sua comunidade foi o guarani Lucas Benite. Segundo ele, os problemas enfrentados pela comunidade indígena no município são muito parecidos com os dos quilombolas do Bracuí,  e que a luta mais importante deles hoje é manter os jovens na comunidade desenvolvendo ações sustentáveis e preservando as tradições de seu povo, que são muitas , sendo que algumas delas somente são conhecidas por eles e devem permanecer assim para serem resguardadas. Falou sobre todas as experiências malsucedidas do Estado brasileiro de implantar projetos na aldeia, sem ouvi-los; e sobre os projetos atuais, que estão começando a dar certo, porque estão sendo geridos conforme suas convicções,  como a oficina de papel reciclado, plantio de jussara, oficina de vídeo e outros.

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