A história do jovem angrense Iago Rodrigues, 17 anos, morador na Rua das Palmas, no Campo Belo, área carente de Angra dos Reis, pode parecer uma trajetória comum a muitos garotos de inúmeras comunidades espalhadas pelo Brasil, mas, como todo menino pobre que sonha em vencer na vida fazendo o que mais gosta, jogar futebol, o caminho de Iago não é diferente de tantos outros, mas certamente de histórias na maioria das vezes raras de se concretizar.
Recentemente, quando o atual técnico do Angra Esporte Clube, Carlos Alberto Freitas, o Bel, assumiu o comando do time, trouxe o talentoso atacante para fazer parte do grupo profissional, pois já o conhecia da época de juniores, quando dirigiu a equipe no Campeonato Estadual, que terminou no mês passado. Bastou Iago participar de um treinamento no time de cima, para que ele viesse a se destacar, marcar dois gols e, por feliz coincidência, ser visto pelo presidente do Nacional da Ilha da Madeira, Rui Alves, que assistia ao treino na tarde do último dia 3, no Estádio Municipal, em visita estratégica para observar jogadores do Angra.
Com o belo futebol apresentado, Iago foi convidado a ter uma chance de mostrar o seu talento nos gramados europeus, indo integrar-se ao grupo de jogadores do Desportivo Nacional da Ilha da Madeira, na categoria de juniores. Sonho que muitos garotos têm, mas que pouquíssimos conseguem realizar. Chegou a vez de Iago, e ele não esconde o sentimento de confiança e a certeza de que fará de tudo para conquistar em definitivo essa oportunidade. Ele passará por um período de testes em Portugal e, caso venha a ser aprovado, será contratado pelo time lusitano.
Caso isso seja concretizado, o Angra dos Reis Esporte Clube vai ter participação na venda do jogador, como bem salientou o presidente do clube, Jorge Eduardo Mascote: “O Iago está indo para fazer testes, uma grande oportunidade de mostrar o seu talento e caso o seu futebol agrade aos portugueses, o Angra terá participação de 10% na venda do seu passe para o Nacional. Estamos confiantes e, acima de tudo, torcendo pelo sucesso do garoto. Diferentemente do caso Iago é a situação dos jogadores Douglas Pará e do Marcelo Valverde, que são atletas ligados à GP Soccer, e o Angra não teria nenhuma participação na venda deles”, disse Mascote.
A vida em família
Filho da cozinheira Léa Maria Rodrigues Rivaldo, 53 anos, que, além de Iago, tem mais cinco filhos, sendo três do primeiro casamento, já adultos, Marcos Antônio, 38 anos, Cristiane, 34, Juciane, 28, e três da segunda relação, Rodrigo, 23 anos, Iago, 17, e Fabrício, 14, que está seguindo o mesmo caminho do irmão, mostrando que também deseja trilhar sua vida no futebol. Dona Léa sempre teve uma vida difícil e de muita batalha para sustentar a família, mas se orgulha da criação que deu para os filhos, sustentada pelo trabalho incansável à beira do fogão, em casas de patrões e na venda de O pai biológico de Iago foi embora de casa, voltou para a sua terra natal, Campina Grande, quando ele tinha cinco anos, e quem o criou foi o seu padastro Nonias, que tinha adoração pelo garoto e pelos outros dois enteados que viviam com ele. Nonias chegou a fazer previsões quanto ao futuro de Iago, dizendo que o menino seria um jogador de futebol e que ainda iria vê-lo brilhar, só que não mais em vida, pois ele veio a falecer há dois anos.
Iago teve uma infância dura, com dificuldades financeiras, no bairro do Perequê, hoje chamado de Parque Mambucaba. Aos sete anos o garoto vivia jogando peladas de pés descalços nos campos esburacados do bairro, e quando menino, talvez nem imaginasse trilhar por caminhos bem mais afortunados na vida, tendo o futebol como mola-mestra de sonhos que pudessem, no futuro, se transformar em realidade. Ele ainda morou na Nova Angra e por fim no Campo Belo, onde conheceu o seu primeiro treinador, quando tinha 11 anos.
O primeiro treinador
Dividido entre as tarefas escolares, de ajuda ao padastro num bar da família e o lazer apaixonante pelas peladas nos campos de areia batida com os amigos, Iago começou a conhecer de fato o lado mais realista do futebol, de suas noções básicas, de uma prática de esporte mais responsável e menos moleque, no contato com o seu primeiro treinador. Guilherme Nunes, na época, era técnico e incentivador da iniciação da garotada no futebol, pelo Estrela Branca Futebol Clube, time amador do bairro do Belém, em uma das regiões mais carentes do município.
Foi lá que o garoto Iago aprendeu o beabá do futebol, seus ensinamentos e suas lições, tendo como embasamento a formação do homem cidadão. Desde que entrou no time, o treinador Guilherme viu em Iago a oportunidade clara de ascensão de um jovem talento do futebol. O garoto disputou campeonatos amadores da cidade pelo Estrela Branca, sendo campeão infantil e bicampeão juvenil, inclusive se destacando como artilheiro do time nos torneios.
Não demorou muito para Iago ser chamado para integrar a seleção da Liga Angrense de Desportos, a LAD, em disputas de competições regionais e estaduais nas categorias de que a equipe participava, inclusive tendo Guilherme Nunes como treinador. No ano passado ele disputou o Campeonato Estadual de Ligas Municipais promovido pela Federação e Futebol do Estado do Rio de Janeiro, defendendo as cores de Angra na categoria Sub 17 e tornou-se artilheiro da competição com 12 gols.
Em uma das “peneiras” promovidas pelo Angra Esporte Clube no início do ano para a disputa do estadual na categoria juniores, Iago foi selecionado e foi um dos destaques do time na competição. Não foi à toa que o seu treinador, Bel, hoje no profissional do Angra, fez questão de integrá-lo ao time de cima. Hoje, Iago convive com os jogadores do Tubarão Azul, mora na concentração da equipe no bairro de Jacuecanga, participa dos treinamentos, enquanto aguarda a sua ida para Portugal, que a princípio deverá ocorrer ainda neste mês de junho. E aí, o restante da história a gente já destrinchou no começo desta matéria.
Iago: do Campo Belo para o futebol europeu
Depois das peladas em campos esburacados, Iago, de 17 anos, agora vai trilhar os gramados lusitanos