O músico Sebastião Pereira, o Tião do Trombone, 82 anos, é uma figura querida, que esbanja simpatia. É o integrante mais antigo da Banda Jardim Sarmento. Tião é angrense, de Monsuaba. Viúvo há três anos, pai de dois filhos, com cinco netos e três bisnetos, mora com a família no Morro do Santo Antônio, numa grande residência construída por ele. Ele vai ao Abraão, no sábado, dia 9, para ser homenageado durante o XV Festival de Música e Ecologia da Ilha Grande.
Tião tem na música mais que um prazer, “uma companhia”. Quase não toca mais na banda, mas participa dos ensaios quando pode. Em casa ensaia bastante porque “tenho que soprar todos os dias. A embocadura é importante, não posso perdê-la. Não tenho mais saúde para acompanhar a banda pelas ruas da cidade, mas se a apresentação for em local fechado ainda consigo tirar boas notas do trombone, meu grande companheiro”, diz sorrindo e tocando um trecho de uma música.
Ele toca trombone desde os 15 anos de idade, quando, por desejo pessoal, resolveu aprender música antes de aprender a ler e a escrever, tão grande era sua vontade. “Meu professor disse que antes da música eu tinha que aprender a ler. Mas não obedeci. Primeiro aprendi a tocar trombone na Banda Fênix Euterpe Angrense”.
Explica que o seu interesse pela música surgiu ao ver o embate de duas bandas na cidade, a Fênix e a Democrata , que eram bandas políticas, “cada uma defendia um político e quase se pegavam quando se encontravam nas ruas. Uma defendia o ex-prefeito Honório Lima, o Toquinho; e a outra fazia a corte a Moacir de Paula Lobo. A competição era sadia, mas encarniçada”, conta ele.
Tião nunca viveu da música, mas sempre a teve a seu lado. Trabalhou em uma salineira e, por 35 anos, como civil, no Colégio Naval. Lembra com saudades que, no passado, as bandas, além da presença garantida nos eventos cívicos e comemorativos, também se dedicavam aos bailes, onde os ritmos dominantes eram a valsa, o bolero e as marchinhas.
_ O samba só chegou depois. O pessoal daqui gostava mesmo era das valsas e dos boleros. Fiz muitas traquinagens por causa da música. Uma vez escapuli do trabalho, peguei um barco para fazer um baile em Paraty e deu a maior confusão. Na música de hoje tem muito lixo, mas é tudo combinado com as gravadoras. Acho que as igrejas hoje em nossa cidade estão fazendo um bonito trabalho cativando os jovens para a música.- afirma.
Além do orgulho da família, dizendo que filhos e netos têm ritmos, Seu Tião tem um outra grande alegria : “Incentivei e influenciei dois meninos vizinhos a aprender e a gostar de música: o Felipe e o Rodrigo, hoje rapazes. Todos os dois aprenderam , o Felipe faz parte de um conjunto e o Rodrigo toca sax na mesma banda que eu: a Jardim Sarmento. Tenho muito orgulho disso”, declara.
Troféu Sebastião Pereira
Tião do Trombone será homenageado no XV Festival de Música e Ecologia da Ilha Grande