Dengue: notificações dos casos

Os diferentes métodos para diagnosticar a dengue têm causado polêmica no comparativo entre Rio e São Paulo

Sexta-Feira, 13/02/2009 | .

O combate à dengue não para em Angra dos Reis. A Fusar e a Defesa Civil têm se unido para diminuir o índice de risco do município, e resultados positivos têm confirmado que os esforços valem a pena. Apesar de a incidência de casos em 2009 ter sido praticamente zero, a sombra do número alto dos casos em 2008 ainda perdura sobre a cidade. A responsabilidade socioambiental em eliminar os focos do mosquito tem sido enfatizada através de constantes ações da Fusar e outras secretarias para conscientizar a população. O problema dos números de casos está na comparação com o de cidades vizinhas do Estado de São Paulo.

Angra dos Reis, Barra Mansa, Paraty, Resende e Rio Claro são os cinco municípios do Estado do Rio de Janeiro que fazem divisa com o Estado de São Paulo. Arapeí, Areias, Bananal, Cunha, Queluz, São José do Barreiro e Ubatuba são os sete municípios do Estado de São Paulo que fazem divisa com o Estado do Rio. Do ponto de vista climático e econômico, há muitas semelhanças entre os 12 municípios. Porém, há divergências quando o assunto é o mosquito Aedes aegypt. Levantamentos comprovam a inexplicável mudança de comportamento do mosquito transmissor da dengue quando se atravessa a divisa dos dois estados.

Em 2008, segundo dados oficiais, os cinco municípios fluminenses registraram 12.672 casos e nenhuma cidade ficou livre da doença. Angra registrou quase 11 mil, e seis dos sete  municípios do Estado de São Paulo, no mesmo período, não registraram um caso sequer. A única cidade a registrar incidências de pessoas contaminadas pelo mosquito foi Ubatuba, e mesmo assim, irrisoriamente, com quatro casos. 

As divergências entre esses números causou conflito nas explicações das autoridades da área de saúde, conforme publicado na revista Época, do dia 9 de fevereiro.

– A princípio, não tem explicação lógica para isso. É preciso averiguar o que está acontecendo com a vigilância local – disse o coordenador do Programa Nacional da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanni Coelho. 

– É estranho. Ou o combate em São Paulo é bastante eficiente mesmo, ou há subnotificação – afirmou Roberto Medronho, epidemiologista e chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ.

Afirmam os especialistas em políticas públicas que a melhor maneira de não resolver um problema é subestimá-lo. A diferença entre os números pode estar associada, então, aos critérios para diagnóstico e notificação, que tendem a ocultar o problema. São Paulo subnotifica, ou melhor, omite os casos que poderiam vir a ser dengue e os registra como gripe, virose ou outras doenças com sintomas semelhantes.

Em 2007, quando São Paulo ainda notificava os casos nos padrões do Ministério da Saúde, o Estado registrou seu recorde de dengue: 92.345 casos. No ano passado, quando passou a levar em consideração exclusivamente as confirmações laboratoriais, a dengue caiu para 7.187 casos, uma redução de 92%, comemorada inclusive pelo governador José Serra, ex-ministro da Saúde.

Segundo Leonardo de Freitas,  coordenador de Fatores Biológicos da Fusar, em Angra é adotado o procedimento que o Ministério da Saúde determina para notificação da doença.

– Quando o paciente chega para ser atendido e apresenta os sintomas: dor de cabeça, febre, dores musculares, diarréia e outros, os médicos diagnosticam como possível caso de dengue e, face disso, amostras de sangue são recolhidas, pelo menos duas vezes, para averiguação do número de plaquetas no paciente. Depois de pelo menos 10 dias, é pedido o exame de sorologia. E só depois de  30 dias o resultado chega. É um exame demorado, mas procedemos conforme ordens do Ministério da Saúde – contou Leonardo.

O problema é que os pacientes procuram atendimento nos primeiros dias da doença, mas depois, quando já começam a melhorar, não voltam mais ao médico para o buscar o resultado, ou coletar o sangue para a sorologia, o exame laboratorial.

A dona-de casa Silvia Elena da Silva, de 47 anos, moradora da Japuíba, começou a se sentir mal no dia 4 de fevereiro e foi ao posto de saúde procurar atendimento. Como os sintomas eram dores no corpo, falta de apetite, febre, diarréia, o médico logo diagnosticou como dengue. Exames de hemograma foram feitos para averiguar o nível das plaquetas no sangue. Como as plaquetas estavam abaixo do normal, um acompanhamento do caso foi feito e, depois de 10 dias, o médico recolheu a amostra para sorologia. 

– Já estou me sentindo melhor, mas daqui a 30 dias vou voltar para buscar o resultado e saber se o que eu tive foi realmente dengue – falou a dona-de casa, que, sempre preocupada com a proliferação do mosquito, mantém a casa limpa, sem possíveis locais para a reprodução do Aedes aegypt.

A demora na coleta do sangue para o exame é, segundo médicos, necessária para a eficácia do resultado. A norma na rede pública diz que ela deve ser feita cindo dias após o início dos sintomas. Seria o tempo necessário para o organismo criar os anticorpos. Mas os médicos dizem que esse prazo é insuficiente e preferem esperar 10 dias para o recolhimento do sangue.

Regionalização do Lacenn

 O coordenador de Fatores Biológicos da Fusar falou a respeito das dificuldades encontradas nos exames laboratoriais do município. A demora na entrega dos resultados se dá porque as coletas acontecem aqui, mas as amostras são enviadas para o Lacenn (Laboratório Central Noel Nutels), no Rio de Janeiro, que atende os 94 municípios do Estado do Rio.

Há propostas para a regionalização do laboratório para este ano ainda, e Angra sediaria o polo da Costa Verde, atendendo os demais municípios da região.

Segundo o presidente da Fusar, Adilson Bernardo, as negociações com o Estado estão em andamento e a busca de parcerias para o projeto é muito importante.

– A população se beneficiará para direcionar as atividades de campo com mais rapidez e também melhoraria a qualidade do atendimento dos profissionais à população, que seria atendida com mais eficiência – afirma Adilson.

Lira – Levantamento de Índice Rápido

 A Fusar realizou, no período de 25 a 31 de janeiro, o Lira (Levantamento de Índice Rápido). Os dados são coletados no município, que é dividido em nove estratos, e uma média é tirada dos índices de infestação predial  e de bretor, que são os focos encontrados em depósitos.

O levantamento, que acontece quatro vezes ao ano, teve um resultado digno de comemorações.  Com 0,5%, o município continua classificado na escala de baixo risco, como nos outros Liras realizados em julho e outubro de 2008. A divulgação dos dados de que Angra seria a segunda cidade do Estado do Rio com maior incidência da doença, causou muitos problemas para o município no verão passado, quando o turismo está em alta. É também no verão que os mosquitos proliferam, devido ao período das chuvas, e consequentemente aumentam os casos de dengue. 

Por ações contínuas da Fusar, com visitas domiciliares; ações de manejo ambiental (retirada de depósitos com o apoio do Serviço Público, que cede um caminhão e uma retroescavadeira); ações de bloqueios junto aos casos suspeitos de dengue, quando uma equipe para visita domiciliar é enviada e outra para borrifação e fumacê , para extinguir os focos do mosquito num raio de 100 metros da residência em questão; serviço fumacê  com carros cedidos pela Defesa Civil; ações educativas realizadas pela equipe de Educação em Saúde nas escolas e associações de moradores, como também a apresentação de teatros; ações em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente, na criação do Ecoponto para o descarte correto dos pneus; parceria com a Secretaria de Defesa Civil para o serviço de vedação de depósitos; são por essas ações que os casos de dengue no município foram reduzidos, praticamente, a zero.

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