Mulheres do sertão. Mulheres lutadoras, que sobrevivem na contramão do sistema. Distantes da realidade da cidade e de uma rotina de dupla, ou até mesmo de tripla jornada. Moram na roça, criando animais e com a enxada na mão, cuidam do pedaço de chão que, na maioria das vezes, era dos avós, pais e que por herança lhes pertence.
Uma viagem ao Sertão de Mambucaba, que faz divisa com a reserva nacional do Parque da Bocaina, para conhecer de perto a vida da mulher do sertão, foi realizada pela Subprefeitura da Região Sul e pelo Cras do Perequê, apoiados pela Defesa Civil, para homenagear essa mulher guerreira, que coloca a mão na roça e anda de bicicleta por até duas horas para chegar ao lugar mais próximo da civilização.
Mulheres como Eliete da Silva, de 37 anos, mãe de Divoneide da Silva, 19, que saíram de Campina Grande (PB) em busca de uma melhor qualidade de vida.
– Lá, trabalhávamos na roça e tínhamos uma rotina semelhante à que temos aqui. A diferença está no calor, que lá era insuportável. Minha filha vai para a escola de bicicleta e leva 40 minutos para chegar lá. É longe, mas já se acostumou com isso – comentou dona Eliete, que cria peixes, patos, galinhas e trabalha como caseira em um sítio do sertão. Ela e o marido mantêm uma “barraca”, onde vendem bebidas, porções de peixe, pastel, aipim durante os finais de semana, próximo à Cachoeira Itapicú.
No sertão, existe uma escola da rede municipal, a E.M. Diniz Marques de Souza, onde trabalham algumas mulheres do sertão. Dentre elas, a merendeira Marly Tavares, que há cinco anos trabalha na escola e há 15 vive na região.
– Eu era doméstica, agora aqui tenho um salário melhor e um horário reduzido de trabalho. Mas faço muita hora extra e ajudo meu marido no sustento da casa – falou Marly. Ela frequenta a Igreja Batista no Perequê, mas só consegue assistir ao culto no domingo pela manhã, pois leva cerca de uma hora para percorrer os 8,5 km de bicicleta até a igreja.
Na frente da escola, encontramos uma senhora que colhia acerolas. Muito solícita e disposta, recebeu a equipe do Cras e da Subprefeitura.
– Fica à vontade, minha gente, pode entrar – saudou dona Maria Benedita, de 56 anos. A casinha de estuque, construída há 20 anos, onde hoje mora sua filha, mostra a realidade do lugar.
– Eu tive que mudar para o Perequê, pois estava difícil ficar aqui sem luz elétrica. No dia em que ligarem a luz aqui, eu volto. – afirmou dona Maria, que frequentemente vai ao sertão, porque não consegue viver sem a roça. Ela, muito disposta, faz o percurso a pé e leva cerca de duas horas para chegar até o local.
– Eu quase não aguento mais andar, tenho sentido muita dor nas pernas, minha vida foi muito difícil, criei dez filhos e agora quero é cuidar da minha roça, colhendo milho, feijão, inhame, batata – falou, contando sobre a dificuldade de se viver sem a luz elétrica. Segundo ela, quando compram carne, têm que fazer tudo no mesmo dia, para não estragar, pois não têm como conservar os alimentos.
Não muito diferente, dona Nilda Viana, de 66 anos, é nascida e criada no sertão. Mãe de sete filhos, vive uma vida tranquila, plantando banana, milho, feijão e cuidando dos porcos, galinhas e patos no seu sítio. Para ajudar na renda, faz pão para vender e agora aprendeu mais uma nova maneira de passar o tempo, curto, segundo ela: fazer tapetes de retalhos.
– Aqui, a terra é muito fértil. Tudo o que se planta, se colhe – contou dona Nilda. O lampião a gás, as velas, as carnes conservadas na banha são alguns dos detalhes presentes em sua casa, muito comuns às casas do sertão.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, a responsabilidade do abastecimento da luz elétrica na região, que é considerada área rural, é da Ampla. E a solicitação do setor de iluminação pública da Secretaria de Obras, Habitação e Serviços Públicos, já foi feita.
– Nós fizemos nossa parte e entregamos o pedido à Ampla, vamos aguardar, porque a implantação da rede compete a eles – afirmou o secretário Leonardo Corrêa.
A comunicação, geralmente feita por celular, se limita a algumas operadoras. Quem não tem celular, utiliza o telefone público da escola . Dificuldades superadas com facilidade.
A saúde dessas mulheres, sempre fortes, mas marcadas pelos sinais do tempo, é cuidada, quase que diariamente, pelo agente de saúde da Fusar, que faz o trabalho nas casas, visitando as famílias.
Uma realidade bem diferente, mas não muito distante. As mulheres do sertão são verdadeiras heroínas do seu tempo que guerreiam contra as dificuldades de uma vida simples e, indiscutivelmente, são vitoriosas.