O seminário sobre Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho, realizado nesta quarta-feira, dia 27, no auditório do Centro de Estudos Ambientais (CEA), foi uma demonstração da mudança de visão do poder público ante as questões de saúde mental. O evento foi promovido pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Baía da Ilha Grande (Cerest-BIG) e teve o apoio da Prefeitura, através da Fundação de Saúde de Angra dos Reis (Fusar).
A presença do público, que lotou o espaço, revelou o interesse dos profissionais da área de saúde dos municípios de Angra, Paraty e Mangaratiba, da Secretaria de Educação, Ciência, Tecnologia, Esporte e Lazer, de Ação Social (Creas/ Cras), sindicatos, Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e profissionais dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) do município, em participar de questões tão importantes, mas que são pouco discutidas nas relações existentes entre o empregador e a saúde do trabalhador.
Na abertura do seminário, o presidente da Fusar, Adilson Bernardo, lembrou que a primeira ação do poder público visando valorizar as questões da saúde do trabalhador, foi em 2001, na 1ª Conferência da Saúde do Trabalhador, realizada em conjunto com uma comissão formada pelo governo, sindicatos e trabalhadores.
– Como médico dessa área, sei da dificuldade de convencer os empresários a investir na medicina preventiva do trabalhador. Muitos acabam enfrentando problemas maiores no futuro por isso, e tendo que desembolsar mais, quando há problemas patológicos, que precisam de tratamento – afirmou Bernardo.
– Essa questão da saúde mental é algo jogado por debaixo do tapete, mas que estamos trazendo a tona e reafirmando a sua devida importância e esclarecendo aos interessados. Nossa proposta é unir a região da Baía da Ilha Grande, através do Cerest-BIG, e nos tornarmos referência para outras regiões com um trabalho e estatísticas confiáveis – falou o presidente da fundação, sugerindo ao Cerest-BIG que promova outro seminário relacionado ao uso abusivo do álcool e sobre a dependência química, assuntos importantes que devem ser tratados com transparência, segundo ele. – A prefeitura de Angra, através da Fusar, se coloca à disposição para fazer o que for necessário para a realização de outros eventos – frisou Bernardo.
A coordenadora de Saúde Mental da Fusar, Luciane Lemos, que também compôs a mesa, salientou o desafio de propor políticas públicas relacionadas à área da saúde mental, e que Angra tem alcançado resultados positivos nessa questão.
– Ter um trabalho como esse é uma conquista para todos nós. Podemos observar que em Angra já se pensa no indivíduo singularmente, e que a sua saúde mental é tratada como deve ser. Pensar diferente é isso, entender o sujeito como um todo na sociedade – falou Luciane aos presentes no auditório.
O superintendente de Vigilância Sanitária, Diogo Ruiz, comentou sobre a confusão que se faz com medicina do trabalho e saúde do trabalhador. Segundo ele, são duas vertentes bem diferentes. E elogiou a iniciativa da prefeitura, de apoiar seminários como esse.
– Estamos tendo o privilégio de apoiar esse evento, através da visão do nosso prefeito Tuca Jordão, em nos dar essa liberdade e acreditar em nosso trabalho. Que multipliquemos os dados e informações que receberemos aqui aos trabalhadores – falou Diogo à coordenadora de Saúde do Trabalhador da Fusar e coordenadora do Ceret-BIG, Caroline Terra.
Foram dadas três palestras no decorrer do dia por médicos e psicólogos do INSS, do Programa Estadual de Saúde do Trabalhador, FioCruz, Uerj e Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec). Os temas abordados foram desde a definição de acidentes de trabalho para o INSS e benefícios até a nova regulamentação sobre as doenças profissionais e do trabalho (ANAMT, 1999) e descrição clínica dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho.
Vale ressaltar que pesquisas indicam que os distúrbios mentais são a maior terceira causa de afastamento de trabalho no Brasil.