Buscando melhorar suas ações de resposta aos problemas decorrentes das fortes chuvas recentes, a Prefeitura de Angra dos Reis irá assinar um termo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para melhor preparar seus profissionais de saúde a prestar assistência em situações de desastres e catástrofes. A Comissão Técnica sobre Intervenções em Desastres e Catástrofes da ABP irá realizar no município o mesmo tipo de treinamento que foi oferecido em Santa Catarina, em 2008, em virtude dos alagamentos ocorridos naquele estado, com adaptações à realidade de Angra dos Reis.
A primeira palestra foi realizada nesta sexta-feira, dia 8, no auditório do Colégio Estadual Artur Vargas (Ceav) e foi ministrada pelo psiquiatra José Thomé, coordenador da comissão da ABP, que veio de São Paulo especialmente para a apresentação. A palestra, cujo tema foi “Cuidando dos cuidadores”, contou com a presença da primeira-dama Alessandra Jordão e reuniu dezenas de profissionais de saúde.
O treinamento da ABP é focado na problemática psicossocial, ampliada em situações emergenciais e calamitosas, e oferecido por meio de palestras voltadas, primeiramente, para profissionais de saúde mental, mas também para profissionais de saúde em geral, agentes que trabalhem em defesa civil, assistência social e na área de educação, além de toda a comunidade.
De acordo com dados fornecidos pela ABP, 20 a 30% da população vai desenvolver algum tipo de transtorno mental em algum momento da vida. Em situações de catástrofe, esse número sobe para 50 a 70%.
O objetivo do treinamento é minimizar problemas decorrentes do desequilíbrio emocional e psíquico, frutos da desorganização decorrente de situações de calamidade pública. A primeira palestra foi focada no preparo emocional dos profissionais que lidam diretamente com as vitimas.
– Nós, que estamos trabalhando neste auxílio, temos que ter muito controle para não nos deixarmos afetar por tudo que está acontecendo. E ajudar essas pessoas a retomar suas vidas é normalmente muito gratificante – afirmou Alessandra Jordão, que completou: – Estou cansada fisicamente, mas confortada, porque estamos conseguindo bastante doações.
– Os profissionais devem estar preparados para conviver com as próprias limitações, e devem criar mecanismos internos de resiliência, buscando desenvolver essa resiliência também nas pessoas assistidas – resumiu José Thomé.
Palavra complicada à primeira audição e de pouco uso, resiliência é um termo que vem das ciências físicas e refere-se à capacidade observada nos metais, de resistência ao choque de recuperação a um estado inicial. No contexto em questão, os psiquiatras a utilizam para designar “a capacidade humana de enfrentar, sobrepujar e ser fortalecido e transformado por experiências de adversidade”, conforme a cartilha da ABP.
José Thomé apresentou formas de se ajudar as vítimas, relacionando saúde mental a situações de desastre. A palestra foi encerrada com um bate-papo entre ele e os participantes, onde estes contaram algumas de suas experiências no atendimento às vítimas nos últimos dias.
O presidente da Fundação de Saúde de Angra dos Reis (Fusar), Adilson Bernardo, disse que foi a ABP quem entrou em contato com a prefeitura e apresentou seu programa, e que a parceria não gera nenhum ônus para a prefeitura, a não ser com hospedagem e alimentação dos profissionais que virão a Angra.
– Achei fundamental que esse treinamento fosse feito também aqui em Angra, pois ele deu bons resultados em Santa Catarina – disse Bernardo, que apresentou o programa ao prefeito Tuca Jordão e intermediou a parceria.