No Sábado de Aleluia, dia 11, Angra dos Reis parou para assistir, por mais um ano, ao grande espetáculo “Auto da Paixão de Cristo”, organizado pela Cultuar, com apoio da prefeitura. O momento é sempre um dos mais esperados das festividades da Semana Santa angrense. Centenas de pessoas se reuniram na Praça Zumbi dos Palmares (Largo do Mercado) para verem e ouvirem “As Últimas Palavras de Jesus”, tema da peça. O texto é de Benjamin Santos e Ginaldo de Souza, e a direção, de Mariozinho Telles e Ginaldo. A participação de Ana Botafogo abrilhantou ainda mais a noite.
Sob a luz de uma lua cheia que parecia querer roubar a cena, o espetáculo começou às 21h30, ao som dos primeiros solfejos do Coral da Cidade, regido pelo maestro Moacyr Saraiva. A peça também contou com a participação de 13 atores do município, nos papeis de Maria, Judas, Pilatos e outros personagens. – Temos muitos bons atores aqui em Angra, que já saíram para se apresentar em várias cidades e estados, por isso decidimos prestigiá-los – Elogiou Mário Luiz dos Anjos, presidente da Cultuar. O papel principal, de Jesus Cristo, não foi para nenhum ator angrense, mas ficou em muito boas mãos com Jitman Vibrannóvski. O ator, que interpreta o personagem há mais de 30 anos, é o Jesus Cristo mais antigo dos palcos brasileiros.
O espetáculo prosseguiu com uma apresentação solo de um dos dançarinos do grupo Nós da Dança, coreografado por Ana Botafogo, seguida pelas primeiras aparições do personagem principal. Sob belos efeitos especiais, som e iluminação, os últimos momentos da vida de Cristo foram novamente remontados: as últimas preces, a traição, o arrependimento e morte de Judas, a captura de Jesus pelos Romanos, a crucificação, a ressurreição. A história é antiga, conhecida, mas sempre cativante. E desta vez foi contada com um texto adaptado para Angra dos Reis, com os personagens se dirigindo diretamente aos angrenses, “para que Angra consiga cuidar de suas mazelas, tratar de seus ferimentos e suas dores”, dizia um deles. O texto era uma mensagem de otimismo e reflexão para o público angrense.
– As dores de Cristo são as dores do mundo, as dores das cidades. Podemos adaptar o texto para Angra, Rio ou Nova York. Todas tem problemas. As crianças que morrem nas ruas das cidades são como cristos, elas não merecem esse sofrimento, da mesma forma que cristo foi condenado sem cometer crime algum – explicou o diretor da peça, que já foi encenada em capitais como Rio, São Paulo e Belo Horizonte, além de outras importantes cidades.
O público se emocionou e aplaudiu diversas vezes os atores angrenses, os dançarinos do Nós da Dança e Vibrannóvski. Destaque também para o figurino caprichado de Maria Carmem, que ajudava a remontar a antiga Jerusalém na imaginação da plateia. As aparições da bailarina Ana Botafogo foram um show à parte. Primeiro, ela surgiu toda de preto, representando o prenúncio da morte, bailando em volta de Jesus, encarnando em seu repertório de balé clássico todo o drama e sofrimento que estava por vir. Pouco depois, surge ela novamente, desta vez, vestida de vermelho, a cor do sangue, personificando o flagelo de Cristo. Nas duas vezes, subiu no palco ao som do piano clássico e desceu dele ao som das palmas da platéia. Já pelo fim da encenação, uma grande imagem de cristo crucificado foi colocada no meio do palco, um dos momentos mais marcantes do espetáculo.
O presidente da Cultuar falou sobre a proposta de valorizar cada vez mais o turismo cultural de Angra dos Reis: – Angra, assim como muitas cidades de interior, possui uma religiosidade muito forte. Pretendemos resgatar o turismo cultural religioso da cidade e no ano que vem vamos estender isso também para os bairros – destacou Mário dos Anjos, mostrando que todo o município será contemplado com iniciativas para o turismo cultural.