Cultuar apoia Encontro de Pandeiros

O percussionista Etiópia ensina sua arte na praça

Quarta-Feira, 27/01/2010 | .

 

Sempre às quartas-feiras, a partir das 18h, o percussionista Jorge Moreno Filho, o Etiópia, bamba no pandeiro e figura querida em Angra, senta em um dos banquinhos da Praça do Porto, no Centro, rodeado pela brisa do mar e das árvores da praça e realiza o Encontro de Pandeiros, que ele não gosta de chamar de curso, mas que funciona como se fosse, só que sem presença obrigatória, mais prazeroso e gratuito, abrindo oportunidades para todos que querem aprender a arte.


O encontro já está recebendo apoio da prefeitura, através da Fundação de Cultura (Cultuar) que comprou 10 instrumentos para incrementar o projeto e dar chances para novos alunos participarem. Os alunos se transformam em grandes amigos e se reúnem para aprender e fazer música.


O número de participantes do projeto varia de uma semana para outra. Às vezes chega a mais de 10 pessoas por noite, e já teve dias que o número chegou a mais de 15 alunos.


-Só quem vem aqui sabe como é bom estar presente, aprendendo, trocando informações e tornando a vida mais bonita. Meu sonho é ver o projeto em diversos bairros, com muitas crianças, jovens e adultos íntimos do pandeiro , fazendo festas e batuques por aí afora. Acredito que chegaremos lá – diz Etiópia, avisando que o projeto está aberto a patrocinadores.

O mesmo projeto está sendo iniciado na pousada da Teresa, às terças-feiras, durante todo o dia, na Vila Histórica, a pedido da proprietária, que conheceu o projeto e solicitou que Etiópia o levasse para as crianças e jovens daquela comunidade.


A idéia do Encontro de Pandeiros, segundo Etiópia, começou quando ele dava aulas para uma amiga, a Bárbara Castilho, que é violinista e gosta de percussão. Eles sentavam na praça com os pandeiros e “ela, sempre muita atenta aos ensinamentos aprendia os delicados detalhes da arte. Depois da Bárbara, veio o Raul Vaz, que nos vendo na praça, também se interessou, depois veio a Martha Myrrha e daí por diante , muitas e muitas pessoas já passaram e continuam se encontrando por aqui”- diz o radiante Etiópia.


E ele tem tudo para estar feliz mesmo. Conta que começou a batucar, ainda menino, com 14 anos, quando com dois pedaços de madeira tirava som dos coletores de lixo das ruas, que eram de fibras, para animar turistas argentinos, que lotavam a cidade no verão. Inclusive seu primeiro pandeiro foi um presente de uma família de Barra do Piraí, Renato e Rose, que o viu tocando na antiga Taberna 33, que funcionava na Avenida Raul Pompeia: um pandeiro amarelo que ele guarda até hoje com carinho.


Etiópia espera que o Encontro de Pandeiros cresça e dê oportunidades a mais meninos de aprenderem a tocar um instrumento musical, “porque faz as pessoas ficarem mais sensíveis, observadoras e felizes”, explica ele.


Etiópia é angrense do Morro do Santo Antônio,é casado e pai de Daniel, 11 anos. È filho de Iolanda e Jorge Moreno e tem cinco irmãos. Depois de 12 anos, cresceu praticamente na Rua Coronel Carvalho, e não tem o que reclamar, porque naquela época, segundo ele, a vida corria mais calma na cidade e era ajudado por todas as famílias e comerciantes da rua, que o consideravam como se fosse da família. Ele se preocupa, porque hoje tudo está diferente e não gosta de ver meninos na rua.“Todos deveriam oferecer-lhes oportunidades. E o Encontro de Pandeiros é um projeto multiplicador. Os meninos que aprenderem aqui poderão fazer o mesmo nas suas comunidades, o que precisamos é de mais apoio”, acredita ele.


Antes do projeto com os pandeiros, Etiópia já realizou outras experiências musicais bem sucedidas com comunidades, com o apoio da Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sapê) e do Grupo de Consciência Negra Yla Dudu.

Seu grande mestre foi o saudoso Seu Epitácio, do Morro do Carmo, cuja família é composta “dos melhores percussionistas da cidade”. Passou por diversos grupos musicais de Angra, como o Yla Dudu, o Homoheyen, Nova Geração, Grupo Camaleão da Terra Santa, Zangareio e o Inspirasamba, onde participou da gravação de um CD e viajou para diversos estados do Brasil.


Hoje, além do projeto, Etiópia faz parte da Banda da Defesa Civil e do Grupo do Quilombo de Santa Rita, no Bracuí.


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