O cinema como ferramenta de expressão das comunidades caiçaras atrai público ao Centro Cultural Theophilo Massad
Belas imagens e depoimentos cheios de sabedoria levaram um bom público para a sala de vídeo do Centro Cultural Theophilo Massad, durante o V Encontro com o Cinema Caiçara, realizado pela Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (Sapê), com o integral apoio da Prefeitura de Angra e a Fundação de Cultura (Cultuar), na noite do dia 27.
As lentes de cineastas como Cecília Lang (curadora e integrante da Sapê)) e de moradores das comunidades, captaram com olhares diferentes, e de grandes significados, cenas singulares da natureza e do cotidiano de praias como as do Aventureiro e Longa (Ilha Grande); e do Sono, Grande de Cajaíba, e Juatinga (Paraty), onde comunidades tradicionais resistem com dificuldades para continuar morando e vivendo da terra e do mar.
Após a exibição dos filmes, “Vestígios”, “É da roça”, “Vida bonita”, “Jóia de barro” e “Um dia perfeito”, aconteceu um debate onde o público, formado por amantes do cinema, representantes de unidades de conservação da região, moradores da Ilha Grande e diretores dos curtas exibidos, atenderam prontamente ao convite e se expressaram com desenvoltura sobre as melhores cenas exibidas na noite. As falas e histórias contadas por dona Maria, que era moradora da Praia Grande de Cajaíba e que hoje reside em outro rico cenário da região, Saco do Mamanguá (Paraty), e de muitos outros moradores, foram as que mais os impressionaram, destacando- se, as falas “terra não se vende”, “gosto daqui como a minha mãe e minha avó gostavam”, “ estranho isso de se colocar resto de comida no saco plástico, dentro de casa, aqui jogamos para os animais comerem... não me acostumo com isso não”.
Ao abrir o encontro, Cecília Lang falou que o projeto de cinema caiçara foi idealizado a partir de conflitos pela ocupação de terra, que surgiram há algum tempo na Praia Grande de Cajaíba, onde antigos moradores estavam sendo ameaçados de serem expulsos da terra onde viviam. Lembrou que o movimento vem crescendo e já deu frutos como o Encontro de Cinema e Bola , realizado anualmente na Ilha Grande (Praia do Aventureiro).
- Nosso movimento nasceu na Praia Grande de Cajaíba e o primeiro encontro foi realizado na Praia do Sono , ambas em Paraty. Na Praia Grande, pegamos a câmera e através dela contamos a história que estava acontecendo na região. Quando os moradores viram os registros e seus depoimentos, foi uma festa só. A partir daí não paramos mais. Durante os encontros realizamos diversas oficinas com as comunidades envolvidas e uma delas é a de cinema. Colocamos a câmera nas mãos dos moradores, e os resultados são preciosos, como o belo “Um dia perfeito”, todo filmado pelos jovens surfistas da Praia do Aventureiro, exibido aqui no encontro- explica Cecília
Também participaram do evento Rosane Prado, pesquisadora e professora da Uerj; Sílvia Chada, da Sapê e da Estação Ecológica de Tamoios; Renê Duque, do Instituto Ambiental do Ambiente (Inea); Mônica Nemer, da Apa Tamoios e Bernadete Passos, da ONG Casa Azul (Paraty), além de professores do município e representantes da Cultuar.