O prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão, concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira, dia 11, no Centro de Estudos Ambientais (CEA), para falar sobre a obra de contenção que será realizada no Morro do Carmo, um dos bairros mais populosos do Centro de Angra. O projeto consiste na utilização de uma técnica de engenharia nunca usada no Brasil, que é a das barreiras flexíveis. A grande vantagem conseguida através dessa metodologia de contenção é que não será preciso demolir cerca de 500 casas que ocupam o entorno do morro, como era previsto no projeto anterior.
– O principal dessa obra é o lucro social que vamos conseguir por não termos que demolir nenhuma casa a mais no Morro do Carmo – ressaltou o prefeito.
Tuca Jordão explicou aos jornalistas e à comissão de moradores do Morro do Carmo, também presente na coletiva, que a metodologia é utilizada na Itália e ele próprio foi àquele pais para ver de perto o seu funcionamento. As barreiras flexíveis são malhas de aço presas a vigas fincadas a sete metros de profundidade no morro. Diversas barreiras são colocadas ao longo do morro para resistir ao impacto dos blocos rochosos que deslizarem. As barreiras podem ser substituídas na medida em que houver desgaste decorrente desses deslizamentos.
– Isso suporta todo o desmonte que possa vir a acontecer de blocos de rocha, assim como árvores e material argiloso – assegurou Tuca Jordão, sempre ressaltando que tudo que está sendo feito em matéria de contenção de encostas no município tem o estudo e o respaldo do melhor corpo técnico do país. Junto com ele, na coletiva, estava o engenheiro civil Luiz Francisco Muniz da Silva, da empresa de engenharia Muniz e Espada. Muniz fez boa parte das explanações, mostrando mapas, fotos e gráficos que ilustravam o projeto e a delicada topografia local. Também faziam parte da mesa representantes da Tecnosonda e da Geomecânica, empresas que também estão trabalhando nas contenções em Angra dos Reis.
O prefeito e o engenheiro destacaram a complexidade da obra, que embora possa parecer simples, não é. Para a implantação das barreiras flexíveis será preciso fazer o que Muniz classificou como “saneamento do morro”, que nesse caso específico consiste no desmonte de blocos rochosos que nele estão dispostos. Como as barreiras suportam blocos de até 6m3 e no Morro do Carmo existem blocos de até 18m3, o que equivale a cerca de 75 toneladas, será utilizado um recurso chamado de “material expansivo” para trincar as rochas ocasionando sua fragmentação.
O material utilizado na obra é importado da Itália e a previsão é de que chegue a Angra entre 70 a 80 dias. A partir disso, a obra deve levar seis meses para ser concluída. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Marco Aurélio Vargas, a obra deve ficar orçada em aproximadamente R$ 20 milhões. Tuca destacou na coletiva que o valor da obra equivale ao que seria gasto com a obra do projeto anterior, que consistia na construção de um muro de contenção equivalente ao que está sendo feito no Morro da Carioca, mas que no caso do Morro do Carmo há a vantagem do lucro social, que é a não demolição das casas.
– Se considerarmos o lucro social, a obra está de graça. O lucro social não tem preço – enfatizou o prefeito.
Tuca Jordão fez questão de ressaltar que a técnica só está sendo utilizada no Morro do Carmo porque a morfologia do local permite.
– As obras variam de acordo com a morfologia local. A solução que serve para um morro pode não servir para outro, explicou Tuca. – Poderíamos fazer as barreiras flexíveis no Morro da Carioca? Até poderíamos. Mas em função da morfologia e da inclinação do Morro da Carioca, que são diferentes do que se tem no Morro do Carmo, o muro teria que ser feito de qualquer jeito no local onde está sendo construído.
Tuca fez um apelo aos proprietários de casas que estão interditadas, não só do Morro do Carmo, mas de todo o município.
– Enquanto suas residências estiverem interditadas, enquanto as obras de contenção não tiverem terminado, não voltem para suas casas. Não paguem com as suas vidas achando que nada vai acontecer. Respeitem a natureza – pediu o prefeito, que ressaltou que no decorrer dos cerca de nove meses de duração da obra no Morro do Carmo (o tempo de espera pela chegada do material mais o tempo da execução da obra), Angra irá passar pelas chuvas de verão, o que requer cuidado redobrado.
Tuca e Muniz deram detalhamentos sobre outras obras de contenção como as do Morro do Santo Antônio, São Bento, Bonfim, enseada do Bananal, e Morro do Tatu. O prefeito disse que está correndo atrás de recursos para realizar mais obras, já que, de acordo com os cálculos da prefeitura, só para as obras de contenção, além dos R$ 30 milhões já conseguidos em caráter emergencial, é preciso mais R$ 40 a R$ 50 milhões.
– R$ 80 milhões não são suficientes – afirmou Tuca, referindo-se a verba repassada pelo governo federal (R$ 50 milhões para habitação e R$ 30 milhões para contenções). – O Avadan mostrou que a tragédia trouxe R$ 324 milhões de prejuízos para o município – explicou.
O prefeito também falou sobre o andamento dos condomínios habitacionais do Areal, Japuíba e Pousada da Glória, que estão sendo construídos para realocar os moradores de áreas de risco. Tuca espera entregar as novas unidades habitacionais até o dia 23 de dezembro. O prefeito informou que a Odebrecht, empresa responsável pelas construções, disse a ele que está havendo uma carência de eletricista e bombeiro hidráulico para trabalhar nas obras. Os profissionais que quiserem se habilitar devem se apresentar no local das obras.
Também estiveram presentes na coletiva alguns secretários e subsecretários, além dos vereadores Ilson Peixoto, Jorge Eduardo Mascote e José Antônio.