O salão de exposição que ocupa os dois primeiros pavimentos do Centro Cultural Theophilo Massad recebeu o nome do grande e saudoso pintor Felício D‘Andréa Netto, considerado o ícone da pintura de Angra, falecido em 2007.
A homenagem a D‘Andréa foi feita pela prefeitura e a Fundação de Cultura (Cultuar), que organizaram na noite de 26, no Centro Cultural, a exposição “D‘Andréa Inesquecível”, com diversas obras do artista, muitas delas premiadas em salões de todo o país, marcando as diversas fases de sua pintura, da acadêmica à contemporânea.
O Coral da Cidade,apresentando um repertório diversificado, e o grupo Contos y Cantos, que está retornando ao cenário musical angrense depois de 25 anos, participaram da importante homenagem a D‘Andréa, apresentando músicas de qualidade, à altura do “grande mestre”, como explicaram o maestro Moacyr Saraiva e o músico Fernando Grande. Saraiva lembrou que o artista foi um grande incentivador do coral e estava sempre na plateía, durante as apresentações.
D‘Andréa escolheu Angra para montar seu ateliê porque considerava o melhor lugar para inspirá-lo. Chegou em Angra no final da década de 60 e não mais saiu. Muito querido por todos que o conheceram, Felício D‘Andréa fez “escola no município”. Considerado o mais querido mestre pelos artistas plásticos da cidade, que o tinham como exemplo de profissional, de cidadão e amigo , D‘Andréa pintava seus quadros com um amor sem igual. Segundo dois grandes amigos e ex-alunos, os artistas Ivo dos Remédios e Narciso Gonçalo, atual gerente da Cultuar, ele primava pela perfeição, refazia quantas vezes fossem necessárias seus desenhos e ensinava o mesmo para os alunos, lembrando que toda a obra deveria ser feita com muita calma e amor. E por tanto zelo e carinho, seus trabalhos resultavam em quadros cheios de vida, ecléticos, de uma beleza singular, como os expostos na noite de festa. Sua recomendação, segundo seus alunos, era sempre a mesma: “Desenhe, desenhe e desenhe..., não tenha preguiça, refaça-os, não tenha pressa, eu queria ter mais 80 anos para fazer e refazer meus desenhos, até que eles cheguem à medida desejada”.
Ivo dos Remédios lembra também que, além de ser um pintor excepcional, D‘Andréa era amante das artes em geral. Gostava de escrever, foi radialista no Rio de Janeiro, teve passagem pelo jornalismo local e lia diariamente mais de cinco jornais, os da região e os do Rio de Janeiro. “Era um homem muito culto, um grande mestre, amou nossa cidade e nos deixou uma grande contribuição”.
Auta Barbosa Gonçalves, a Dona Auta da padaria, grande amiga de D‘Andréa, também foi homenageá-lo, Ela disse que ele sempre chegava durante a tarde à padaria, tomava um cafezinho, conversava, lia muitos jornais e se recolhia para o ateliê. “Ele preferia pintar durante a noite. Dizia que nessas horas ele produzia com mais alegria”.
Na exposição, que ficará até o dia 20 de setembro, além de dezenas de obras belíssimas, medalhas e condecorações recebidas pelo artista, a população poderá apreciar diversos esboços de pintura deixados por D‘Andréa, inclusive o último deles, que se encontra em local de destaque entre os dois salões.
Na ocasião, as filhas do pintor, Maria Cecília e Licéia, e o presidente da Cultuar, Mário dos Anjos, descerraram as placas de inauguração do espaço, acompanhadas de familiares e ladeadas por diversos artistas presentes ao evento. Elas agradeceram a homenagem dizendo que o pai tinha duas famílias em dois recantos: em Angra, os amigos e seu ateliê, na Rua da Conceição; e no Rio, a esposa, filhos, netos e bisnetos. “Ele amava esta cidade e aqui passava a maior parte de seu tempo. Era aqui que ele encontrava inspiração para trabalhar”.
O gerente da Cultuar, Narciso, no ato da inauguração, agradeceu a presença da família de D‘Andréa e falou que a passagem do pintor pela cidade ficou marcada, como uma das mais importantes na história das artes plásticas.
_ Passaram por nosso município diversos artistas plásticos importantes como c Portinari, Pancetti, Di Cavalcanti, Darwin Pereira, e muitos outros, mas para a minha geração, D”Andréa foi o mais importante. Escolheu nossa cidade como base de trabalho e foi aqui que mais trabalhos produziu. Foi meu grande amigo e professor, assim como de Ivo dos Remédios, Carlos Franca, Sueli Messias e muitos outros. Sua importância não pode ser medida, foi essencial para nossa formação e já faz parte da história do município.